Entrevista com o Dr. William Davis (Parte 1/2)
Do website "Fat Head"
Fat head: Você é um cardiologista por profissão, e no entanto você acaba de escrever um elaborado livro sobre os efeitos negativos do consumo de trigo. Como o trigo apareceu no seu radar? O que o fez suspeitar que o trigo pode estar por trás de muitos de nossos problemas de saúde modernos?
Dr. Davis: Tudo começou vários anos atrás quando eu pedi aos pacientes do meu consultório que considerassem eliminar todo o trigo de suas dietas. Eu fiz isso seguindo uma lógica muito simples:Se alimentos feitos com trigo elevam o açúcar no sangue mais do que quase todos os outros alimentos (devido ao seu alto índice glicêmico), incluindo o açúcar de cozinha, então remover o trigo deve reduzir o açúcar no sangue. Eu estava preocupado com os altos níveis de açúcar no sangue já que 80% das pessoas que chegavam no meu consultório tinham diabetes, pré-diabetes ou o que eu chamo de “pré-pré-diabetes”. Resumindo, a grande maioria das pessoas mostravam marcadores metabólicos anormais.
Eu forneci aos pacientes um simples folheto de duas páginas sobre como fazer isso, isto é, como eliminar o trigo e substituir as calorias perdidas com alimentos saudáveis como mais vegetais, oleaginosas, carnes, ovos, abacates, azeitonas, azeite de oliva, etc. Eles voltavam três meses depois com taxas de açúcar no sangue em jejum menores, hemoglobina A1c menor (um reflexo da taxa de açúcar no sangue dos últimos 60 dias); alguns diabéticos se tornaram não-diabéticos, pré-diabéticos se tornaram não pré-diabéticos. Eles também voltavam cerca de 15 quilos mais leves.
Então eles começavam a me contar sobre outras experiências: alívio de artrite e dores nas juntas, irritações de pele desaparecendo, asma melhorando o suficiente para que parassem com os inaladores, sinusites crônicas indo embora, inchaço nas pernas indo embora, enxaquecas cessando pela primeira vez em décadas, sintomas de refluxo ácido e intestino irritável aliviados. No começo, eu dizia aos pacientes que era apenas uma estranha coincidência. Mas aconteceu tantas vezes e a tanta gente que ficou claro que isso não era coincidência; era um fenômeno real e reprodutível.
Foi aí que eu comecei a remover sistematicamente o trigo da dieta de todo mundo e continuei a testemunhar reviravoltas similares na saúde afetando dezenas de doenças. Não houve volta atrás desde então.
Fat Head: Você cita um bocado de pesquisa acadêmica no
seu livro, mas você também cita casos do seu histórico de prática médica. Então, como uma questão do ovo-ou-galinha, qual veio primeiro? Você começou notando que os pacientes que consumiam muito trigo tinham mais problemas de saúde e então saiu em busca de pesquisas que apoiassem as suas suspeitas, ou você cruzou com pesquisas que o levaram a notar como os seus pacientes estavam se alimentando?
Dr. Davis: A experiência do mundo real veio primeiro. Mas o que me surpreendeu foi que já havia uma extensa literatura médica documentando tudo isso, mas era largamente ignorada ou não alcançava a consciência geral nem a consciência da maioria dos meu colegas. E a maior parte da documentação vem da literatura de genética agricultural, uma área, eu posso garantir, que meus colegas não estudam. Mas eu desenterrei esta área da ciência e falei com pessoas da USDA e no departamento de agricultura em universidades para ganhar entendimento total de todas as questões.
Uma das dificuldades que explicam parcialmente por que muitas destas informações nunca viram a luz do dia é que os geneticistas agriculturais trabalham em plantas, não em humanos. Há uma ampla e pervasiva presunção seguida por estes cientistas bem intencionados: Não importa quão extremas as técnicas usadas para alterar a genética de uma planta como o trigo, ela ainda é perfeitamente boa para o consumo humano… sem nenhuma dúvida. Eu acredito que isto é completamente errado e está por trás de muito do sofrimento infringido em humanos consumindo este produto moderno da pesquisa genética ainda chamada, enganosamente, de “trigo”.
Fat Head: Então depois de apontar o trigo como o causador de vários problemas de saúde, você começou a aconselhar seus pacientes a eliminá-lo de suas dietas. O que o inspirou a dar o passo extra – e é um grande passo – de escrever um livro?
Dr. Davis: O que eu testemunhei nas milhares de pessoas que removeram o trigo de suas dietas não foi nada menos que incrível. Quando eu vi uma perda de peso de mais de 30 quilos em seis meses, níveis de humor e energia disparando, reversão de doenças inflamatórias como colite ulcerosa e artrite reumatóide, alívio de irritações de pele crônicas e artrite – e os efeitos foram consistentes caso após caso – eu percebi que não poderia deixar essa questão passar silenciosamente apenas na prática do meu consultório.
Reconhecidamente, o mundo vai precisar de mais dados confirmatórios antes que o trigo, ou pelo menos a versão moderna geneticamente alterada do trigo que estão nos vendendo, seja removido do prato de jantar do mundo. Mas os dados que já estão disponíveis são mais que suficientes, eu acredito, para trazer esta informação ao público para que as pessoas tomem suas decisões por si mesmas. Eu comparo esta situação a viver em um vilarejo onde todos bebem a água do mesmo poço. Nove em cada 10 pessoas ficam doentes quando bebem a água do poço; todos se recuperam quando param de beber. Quando voltam a beber, todos adoecem novamente; param e ficam melhores. Com uma relação causa-e-efeito tão consistente e reprodutível como essa, precisamos mesmo de um ensaio clínico para prová-lo para nós? Eu não preciso.
Isto será uma longa e difícil batalha na arena pública. O trigo compõe 20% de todas as calorias humanas. Ele requer uma enorme infraestrutura para o plantio, colheita, extração de sementes, fertilização, processamento e distribuição. Esta mensagem vai potencialmente prejudicar o sustento de milhares, talvez milhões de pessoas que fazem parte desta infraestrutura. Isso me lembra das batalhas que foram travadas (e são ainda hoje) quando se tornou amplamente aceito que fumar cigarros fazia mal.
Quando as pessoas de dentro da indústria do tabaco eram indagadas sobre como elas podiam trabalhar para uma companhia que destruía a saúde das pessoas, elas respondiam “Eu tinha que sustentar minha família e pagar meu aluguel”. A discussão elimine-todo-o-trigo-da-dieta-humana que eu proponho vai atingir muita gente onde dói mais: no bolso. Mas, pessoalmente, eu não estou disposto a sacrificar a minha própria saúde, a da minha família, amigos, vizinhos, pacientes e da nação para permitir que um status quo incrivelmente insalubre continue.
Fat Head: Quanto mais eu leio o livro, mais eu me pego pensando, “Uau, eu sabia que o trigo era ruim para nós, mas é ainda pior do que eu pensava”. Você teve a mesma reação enquanto fazia a pesquisa para o livro? Você ficou surpreso ao ver quantos problemas físicos e mentais o trigo pode causar?
Dr. Davis: Sim. Eu sabia que o trigo era ruim desde o início do projeto. E houveram momentos em que eu me perguntava se não estava deixando passar alguma coisa, dada a adoção unânime dos grãos pelo agronegócio, fazendeiros, cientistas agriculturais, o USDA, FDA, Associação Dietética Americana, etc. Mas o oposto aconteceu: Quanto mais a fundo eu ia, mais esta coisa sendo vendida para nós com o nome de “trigo” parecia pior… e pior, e pior, quanto mais longe eu ia.
Eu sou consciente da armadilha “para alguém com um martelo, tudo parece um prego” que podemos cair, mas quando você vê doença após doença desaparecer com a eliminação do trigo, não dá pra deixar de se convencer que ele tem um papel crucial em centenas, literalmente centenas, de condições comuns.
Fat Head: Você descreve no seu livro como o trigo de hoje é o produto de cruzamento genético. Os cruzamentos são inerentemente ruins? Não acontecem cruzamentos na natureza o tempo tudo?
Dr. Davis: Sim, acontecem. Humanos, assim como todas as plantas e animais, são o produto de cruzamentos ou hibridização. Amor, sexo, e cruzamento fazem o mundo girar e tornam a vida interessante. O problema é que estes termos são usados muito vagamente pelos geneticistas.
Por exemplo, se eu expor sementes e embriões de trigo ao potente veneno industrial azida de sódio, posso induzir mutações no código genético da planta. Primeiro, deixa eu falar sobre a azida de sódio. Se ingerida, as pessoas do controle de venenos do Centro para Controle de Doenças recomenda que você não tente ressucitar a pessoa que a ingeriu e parou de respirar como resultado – apenas deixe a vítima morrer – porque a pessoa tentando salvá-la pode morrer também. E, se a vítima vomitar, não jogue o vômito na pia porque ela pode explodir (isso já aconteceu). Então, exponha sementes e embriões de trigo à azida de sódio e você obtêm mutações. Isto é chamado de mutagênese química. Sementes e embriões também podem ser expostos a irradiação gama e altas doses de radiação de raio-x. Todas estas técnicas caem sob nome de hibridização ou, ainda mais enganador, técnicas de reprodução tradicionais. Eu não sei quanto a você, mas a reprodução entre os humanos que eu conheço não envolvem massagear um ao outro com venenos químicos ou uma tarde romântica em um ciclotron para induzir mutações na nossa prole.
Estas “técnicas de reprodução tradicionais”, por falar nisso, são consideravelmente mais disruptivas para a genética da planta que a engenharia genética. Os americanos estão em guerra com os alimentos geneticamente modificados (transgênicos, ou seja, com a adição ou remoção de um único gene). A grande ironia é que a engenharia genética é uma substancialmelhoria sobre as “técnicas de reprodução tradicionais” que ocorreram durante décadas e que ainda ocorrem.
Fat Head: Eu o conheci em pessoa a mais de um ano atrás, e você é um cara bem magro, então eu fiquei surpreso ao ler no livro que você costumava carregar por aí a sua própria barriga de trigo. Descreva as diferenças entre você como um consumidor de trigo e você agora, em termos de ambos o seu físico e a sua saúde.
Dr. Davis: Quinze quilos atrás, enquanto eu ainda era um entusiástico consumidor dos “saudáveis grãos integrais”, eu lutava contra constantes dificuldades em manter o foco e a energia. Eu dependia de potes de café ou caminhadas e exercício só para combater a letargia e a mente enevoada. Meus números de colesterol refletiam meus hábitos de consumo de trigo: HDL 27 mg/dl (muito baixo), triglicérides 350 mg/dl (MUITO alto), e açúcar no sangue na faixa de diabetes (161 mg/dl). Eu tinha pressão alta, com valores ao redor de 150/90. E todo o meu excesso de peso era ao redor da cintura – sim, minha própria barriga de trigo.
Dar adeus ao trigo me ajudou a perder o peso ao redor da cintura; meus números de colesterol: HDL 63 mg/dl, triglicérides 50 mg/dl, LDL 70 mg/dl, açúcar no sangue 84 mg/dl, pressão 114/74—sem usar nenhum remédio. Em outras palavras, tudo se reverteu. Tudo foi revertido incluindo a luta para manter a atenção e o foco. Agora eu posso me concentrar e focar em alguma coisa por tanto tempo que minha esposa me manda parar.
Levando tudo em conta, eu me sinto melhor hoje com 54 anos do que eu me sentia quando tinha 30.
Fat Head: Como aprender o que você sabe sobre o trigo e outros grãos mudou sua prática médica?
Dr. Davis: Catapultou o sucesso em ajudar as pessoas a recuperarem a saúde para a estratosfera. Entre as pessoas seguindo esta dieta, isto é, eliminar o trigo e limitar outros carboidratos (junto com outras estratégias saudáveis para o coração que eu advogo, incluindo suplementação com óleo de peixe, suplementação com vitamina D para alcançar um nível desejável de vitamina D 25-hidroxi de 60-70 ng/ml, suplementação de iodo e normalização de disfunção da tireóide), eu não vejo mais ataques cardíacos. Os únicos ataques cardíacos que eu vejo são de pessoas que eu recém conheci ou aqueles que, por um motivo ou outro (normalmente falta de interesse) não seguem a dieta. Um padre de quem eu cuido, por exemplo, um homem generoso e maravilhoso, não conseguiu se obrigar a rejeitar os muffins, tortas e pães que seus fiéis lhe traziam todos os dias; ele teve um ataque cardíaco apesar de fazer todo o resto corretamente.
Esta abordagem dietética, apesar de parecer peculiar superficialmente, é extremamente poderosa. Que dieta, afinal, causa perda de peso substancial, corrige as causas das doenças cardíacas como partículas LDL pequenas, reverte a diabetes e a pré-diabetes, e melhora ou cura múltiplas condições variando de artrite reumatóide a refluxo ácido?
Fat Head: Você viu centenas de seus próprios pacientes ficarem curados de doenças supostamente incuráveis após abrirem mão do trigo. Descreva um ou dois dos exemplos mais dramáticos.
Dr. Davis: Duas pessoas estão na minha cabeça quase todos os dias, principalmente porque eu sou especialmente gratificado pela magnitude de suas respostas e porque eu tremo de pensar em como seriam suas vidas se eles não se engajassem nesta mudança de dieta.
Eu descrevo a história de Wendy no livro, uma mãe e professora de 36 anos que tinha uma colite ulcerosa quase incapacitante; são grave que, apesar de três medicações, ela continuava a sofrer constantemente de cólicas, diarréia e sangramento suficiente para requerer transfusões de sangue. Quando eu conheci a Wendy, ela me contou que seu gastroenterologista e cirurgião tinha agendado para ela uma cirurgia para remoção do cólon e criação de uma bolsa de ileostomia. Estas seriam mudanças para o resto da vida; ela estaria fadada a usar uma bolsa para coleta de fezes pelo resto da vida. Eu insisti para que ela removesse o trigo. No começo ela se opôs, já que suas biópsias intestinais e exames de sangue falharam para o teste de doença celíaca. Mas, tendo visto tantas coisas incríveis acontecerem com a remoção do trigo, eu sugeri que não havia nada a perder. Então ela concordou. Três meses depois, ela não apenas tinha perdido 17 quilos, mas todas as cólicas, diarréias e sangramentos haviam parado. Agora já fazem dois anos. Ela foi retirada de todas as medicações e não há mais sinais da doença – colón intacto, nenhuma bolsa de ileostomia. Ela está curada.
O segundo caso é o Jason, também descrito no livro, um programador de software de 26 anos, neste caso incapacitado por dores nas juntas e artrite. Consultas com três reumatologistas não conseguiram chegar a um diagnóstico; todos prescreveram anti-inflamatórios e medicação para dor, enquanto Jason continuava a mancar por aí, incapaz de se envolver em mais que pequenas caminhadas. Dentro de cinco dias desde que removeu todo o trigo, Jason estava 100% livre de dores nas juntas. Ele disse que ele achou isso absolutamente ridículo e se recusou a acreditar. Então ele comeu um sanduíche: As dores nas juntas voltarem correndo. Agora ele está estritamente livre do trigo e das dores.
Fat Head: Seus pacientes são sortudos – você prefere mudar a dieta de um paciente a fazer uma receita médica sempre que possível. Infelizmente, você está entre a minoria. Como eu contei no meu blog recentemente, a esposa de um colega de trabalho foi finalmente curada de suas dores de cabeça quando um conhecido sugeriu que ela parasse de comer grãos. Ela havia ido a diversos médicos que meramente prescreviam medicações. Então… porque tão poucos médicos estão cientes de como os grãos podem afetar nossa saúde?
Dr. Davis: Eu acredito que a área da saúde foi desviada em direção à alta tecnologia, procedimentos que produzem altos lucros, medicações, e cuidados catastróficos. Muito na área da saúde perderam a visão de ajudar as pessoas e cumprir sua missão de curar. Enquanto isso soa fora de moda, eu acredito que é uma tendência ruim para a saúde ser reduzida a uma transação financeira sujeita a restrições legais. Ela precisa voltar a ser uma relação de cura.
Eu acredito que muitos na área da saúde também tenham se desencantado com a ineficácia da orientação alimentar. Porque a “sabedoria” alimentar tem estado errada em tantos pontos durante os últimos 50 anos, as pessoas ficaram desconfiadas da capacidade da nutrição e dos métodos naturais para a melhora da saúde. Pelo que eu testemunhei, no entanto, a nutrição e os métodos naturais tem um poder enorme para curar – se os métodos corretos forem aplicados.
Fat Head: Você espera que seu livro eduque mais doutores no assunto, ou esta é uma daquelas situações onde o público terá que ignorar seus médicos e aprender sozinhos?
Dr. Davis: Lamentavelmente, muitas pessoas lerão a mensagem em Wheat Belly, irão experienciar as incríveis transformações na saúde e peso que podem acontecer, então vão contar aos seus médicos, que irão declarar seu sucesso como uma “coincidência”, “força de vontade”, “efeito placebo” ou outra desculpa. Muitos de meus colegas se recusam a reconhecer o poder da dieta mesmo quando confrontados com resultados poderosos. Isto só poderá mudar após um período muito longo.
Felizmente, mais e mais de meus colegas estão começando a ver a luz e não procurar pelas respostas em drogas e procedimentos. Estes são os profissionais da saúde que eu espero que irão emergir para ajudar pessoas como defensores e treinadores em conduzir uma experiência como a que é descrita em Wheat Belly.
Fat Head: Se mais médicos fossem informados das questões sobre as quais você escreve em Wheat Belly, você acha que eles mudariam suas recomendações alimentares, ou a mentalidade “gordura é má, grãos são bons” está enraizada demais na profissão?
Dr. Davis: Não há absolutamente nenhuma dúvida de que o argumento “gordura é má, grãos são bons” vai persistir nas mentes de muitos de meus colegas por muitos anos. No entanto, eu acredito que se eles lessem os argumentos expostos logicamente em Wheat Belly, eles iriam primeiramente reconhecer que o “trigo” não é mais trigo e sim um produto incrivelmente transformado da pesquisa genética. Então eles começariam a seguir a lógica e entender que a longa lista de problemas associados ao consumo do “trigo” moderno começa a explicar por que estamos testemunhando uma explosão em doenças comuns. É aí que es espero que todos nós ouçamos um coletivo “Aha!”.
Fonte
Do website "Fat Head"
Fat head: Você é um cardiologista por profissão, e no entanto você acaba de escrever um elaborado livro sobre os efeitos negativos do consumo de trigo. Como o trigo apareceu no seu radar? O que o fez suspeitar que o trigo pode estar por trás de muitos de nossos problemas de saúde modernos?
Dr. Davis: Tudo começou vários anos atrás quando eu pedi aos pacientes do meu consultório que considerassem eliminar todo o trigo de suas dietas. Eu fiz isso seguindo uma lógica muito simples:Se alimentos feitos com trigo elevam o açúcar no sangue mais do que quase todos os outros alimentos (devido ao seu alto índice glicêmico), incluindo o açúcar de cozinha, então remover o trigo deve reduzir o açúcar no sangue. Eu estava preocupado com os altos níveis de açúcar no sangue já que 80% das pessoas que chegavam no meu consultório tinham diabetes, pré-diabetes ou o que eu chamo de “pré-pré-diabetes”. Resumindo, a grande maioria das pessoas mostravam marcadores metabólicos anormais.
Eu forneci aos pacientes um simples folheto de duas páginas sobre como fazer isso, isto é, como eliminar o trigo e substituir as calorias perdidas com alimentos saudáveis como mais vegetais, oleaginosas, carnes, ovos, abacates, azeitonas, azeite de oliva, etc. Eles voltavam três meses depois com taxas de açúcar no sangue em jejum menores, hemoglobina A1c menor (um reflexo da taxa de açúcar no sangue dos últimos 60 dias); alguns diabéticos se tornaram não-diabéticos, pré-diabéticos se tornaram não pré-diabéticos. Eles também voltavam cerca de 15 quilos mais leves.
Então eles começavam a me contar sobre outras experiências: alívio de artrite e dores nas juntas, irritações de pele desaparecendo, asma melhorando o suficiente para que parassem com os inaladores, sinusites crônicas indo embora, inchaço nas pernas indo embora, enxaquecas cessando pela primeira vez em décadas, sintomas de refluxo ácido e intestino irritável aliviados. No começo, eu dizia aos pacientes que era apenas uma estranha coincidência. Mas aconteceu tantas vezes e a tanta gente que ficou claro que isso não era coincidência; era um fenômeno real e reprodutível.
Foi aí que eu comecei a remover sistematicamente o trigo da dieta de todo mundo e continuei a testemunhar reviravoltas similares na saúde afetando dezenas de doenças. Não houve volta atrás desde então.
Fat Head: Você cita um bocado de pesquisa acadêmica no
seu livro, mas você também cita casos do seu histórico de prática médica. Então, como uma questão do ovo-ou-galinha, qual veio primeiro? Você começou notando que os pacientes que consumiam muito trigo tinham mais problemas de saúde e então saiu em busca de pesquisas que apoiassem as suas suspeitas, ou você cruzou com pesquisas que o levaram a notar como os seus pacientes estavam se alimentando?
Dr. Davis: A experiência do mundo real veio primeiro. Mas o que me surpreendeu foi que já havia uma extensa literatura médica documentando tudo isso, mas era largamente ignorada ou não alcançava a consciência geral nem a consciência da maioria dos meu colegas. E a maior parte da documentação vem da literatura de genética agricultural, uma área, eu posso garantir, que meus colegas não estudam. Mas eu desenterrei esta área da ciência e falei com pessoas da USDA e no departamento de agricultura em universidades para ganhar entendimento total de todas as questões.
Uma das dificuldades que explicam parcialmente por que muitas destas informações nunca viram a luz do dia é que os geneticistas agriculturais trabalham em plantas, não em humanos. Há uma ampla e pervasiva presunção seguida por estes cientistas bem intencionados: Não importa quão extremas as técnicas usadas para alterar a genética de uma planta como o trigo, ela ainda é perfeitamente boa para o consumo humano… sem nenhuma dúvida. Eu acredito que isto é completamente errado e está por trás de muito do sofrimento infringido em humanos consumindo este produto moderno da pesquisa genética ainda chamada, enganosamente, de “trigo”.
Fat Head: Então depois de apontar o trigo como o causador de vários problemas de saúde, você começou a aconselhar seus pacientes a eliminá-lo de suas dietas. O que o inspirou a dar o passo extra – e é um grande passo – de escrever um livro?
Dr. Davis: O que eu testemunhei nas milhares de pessoas que removeram o trigo de suas dietas não foi nada menos que incrível. Quando eu vi uma perda de peso de mais de 30 quilos em seis meses, níveis de humor e energia disparando, reversão de doenças inflamatórias como colite ulcerosa e artrite reumatóide, alívio de irritações de pele crônicas e artrite – e os efeitos foram consistentes caso após caso – eu percebi que não poderia deixar essa questão passar silenciosamente apenas na prática do meu consultório.
Reconhecidamente, o mundo vai precisar de mais dados confirmatórios antes que o trigo, ou pelo menos a versão moderna geneticamente alterada do trigo que estão nos vendendo, seja removido do prato de jantar do mundo. Mas os dados que já estão disponíveis são mais que suficientes, eu acredito, para trazer esta informação ao público para que as pessoas tomem suas decisões por si mesmas. Eu comparo esta situação a viver em um vilarejo onde todos bebem a água do mesmo poço. Nove em cada 10 pessoas ficam doentes quando bebem a água do poço; todos se recuperam quando param de beber. Quando voltam a beber, todos adoecem novamente; param e ficam melhores. Com uma relação causa-e-efeito tão consistente e reprodutível como essa, precisamos mesmo de um ensaio clínico para prová-lo para nós? Eu não preciso.
Isto será uma longa e difícil batalha na arena pública. O trigo compõe 20% de todas as calorias humanas. Ele requer uma enorme infraestrutura para o plantio, colheita, extração de sementes, fertilização, processamento e distribuição. Esta mensagem vai potencialmente prejudicar o sustento de milhares, talvez milhões de pessoas que fazem parte desta infraestrutura. Isso me lembra das batalhas que foram travadas (e são ainda hoje) quando se tornou amplamente aceito que fumar cigarros fazia mal.
Quando as pessoas de dentro da indústria do tabaco eram indagadas sobre como elas podiam trabalhar para uma companhia que destruía a saúde das pessoas, elas respondiam “Eu tinha que sustentar minha família e pagar meu aluguel”. A discussão elimine-todo-o-trigo-da-dieta-humana que eu proponho vai atingir muita gente onde dói mais: no bolso. Mas, pessoalmente, eu não estou disposto a sacrificar a minha própria saúde, a da minha família, amigos, vizinhos, pacientes e da nação para permitir que um status quo incrivelmente insalubre continue.
Fat Head: Quanto mais eu leio o livro, mais eu me pego pensando, “Uau, eu sabia que o trigo era ruim para nós, mas é ainda pior do que eu pensava”. Você teve a mesma reação enquanto fazia a pesquisa para o livro? Você ficou surpreso ao ver quantos problemas físicos e mentais o trigo pode causar?
Dr. Davis: Sim. Eu sabia que o trigo era ruim desde o início do projeto. E houveram momentos em que eu me perguntava se não estava deixando passar alguma coisa, dada a adoção unânime dos grãos pelo agronegócio, fazendeiros, cientistas agriculturais, o USDA, FDA, Associação Dietética Americana, etc. Mas o oposto aconteceu: Quanto mais a fundo eu ia, mais esta coisa sendo vendida para nós com o nome de “trigo” parecia pior… e pior, e pior, quanto mais longe eu ia.
Eu sou consciente da armadilha “para alguém com um martelo, tudo parece um prego” que podemos cair, mas quando você vê doença após doença desaparecer com a eliminação do trigo, não dá pra deixar de se convencer que ele tem um papel crucial em centenas, literalmente centenas, de condições comuns.
Fat Head: Você descreve no seu livro como o trigo de hoje é o produto de cruzamento genético. Os cruzamentos são inerentemente ruins? Não acontecem cruzamentos na natureza o tempo tudo?
Dr. Davis: Sim, acontecem. Humanos, assim como todas as plantas e animais, são o produto de cruzamentos ou hibridização. Amor, sexo, e cruzamento fazem o mundo girar e tornam a vida interessante. O problema é que estes termos são usados muito vagamente pelos geneticistas.
Por exemplo, se eu expor sementes e embriões de trigo ao potente veneno industrial azida de sódio, posso induzir mutações no código genético da planta. Primeiro, deixa eu falar sobre a azida de sódio. Se ingerida, as pessoas do controle de venenos do Centro para Controle de Doenças recomenda que você não tente ressucitar a pessoa que a ingeriu e parou de respirar como resultado – apenas deixe a vítima morrer – porque a pessoa tentando salvá-la pode morrer também. E, se a vítima vomitar, não jogue o vômito na pia porque ela pode explodir (isso já aconteceu). Então, exponha sementes e embriões de trigo à azida de sódio e você obtêm mutações. Isto é chamado de mutagênese química. Sementes e embriões também podem ser expostos a irradiação gama e altas doses de radiação de raio-x. Todas estas técnicas caem sob nome de hibridização ou, ainda mais enganador, técnicas de reprodução tradicionais. Eu não sei quanto a você, mas a reprodução entre os humanos que eu conheço não envolvem massagear um ao outro com venenos químicos ou uma tarde romântica em um ciclotron para induzir mutações na nossa prole.
Estas “técnicas de reprodução tradicionais”, por falar nisso, são consideravelmente mais disruptivas para a genética da planta que a engenharia genética. Os americanos estão em guerra com os alimentos geneticamente modificados (transgênicos, ou seja, com a adição ou remoção de um único gene). A grande ironia é que a engenharia genética é uma substancialmelhoria sobre as “técnicas de reprodução tradicionais” que ocorreram durante décadas e que ainda ocorrem.
Fat Head: Eu o conheci em pessoa a mais de um ano atrás, e você é um cara bem magro, então eu fiquei surpreso ao ler no livro que você costumava carregar por aí a sua própria barriga de trigo. Descreva as diferenças entre você como um consumidor de trigo e você agora, em termos de ambos o seu físico e a sua saúde.
Dr. Davis: Quinze quilos atrás, enquanto eu ainda era um entusiástico consumidor dos “saudáveis grãos integrais”, eu lutava contra constantes dificuldades em manter o foco e a energia. Eu dependia de potes de café ou caminhadas e exercício só para combater a letargia e a mente enevoada. Meus números de colesterol refletiam meus hábitos de consumo de trigo: HDL 27 mg/dl (muito baixo), triglicérides 350 mg/dl (MUITO alto), e açúcar no sangue na faixa de diabetes (161 mg/dl). Eu tinha pressão alta, com valores ao redor de 150/90. E todo o meu excesso de peso era ao redor da cintura – sim, minha própria barriga de trigo.
Dar adeus ao trigo me ajudou a perder o peso ao redor da cintura; meus números de colesterol: HDL 63 mg/dl, triglicérides 50 mg/dl, LDL 70 mg/dl, açúcar no sangue 84 mg/dl, pressão 114/74—sem usar nenhum remédio. Em outras palavras, tudo se reverteu. Tudo foi revertido incluindo a luta para manter a atenção e o foco. Agora eu posso me concentrar e focar em alguma coisa por tanto tempo que minha esposa me manda parar.
Levando tudo em conta, eu me sinto melhor hoje com 54 anos do que eu me sentia quando tinha 30.
Fat Head: Como aprender o que você sabe sobre o trigo e outros grãos mudou sua prática médica?
Dr. Davis: Catapultou o sucesso em ajudar as pessoas a recuperarem a saúde para a estratosfera. Entre as pessoas seguindo esta dieta, isto é, eliminar o trigo e limitar outros carboidratos (junto com outras estratégias saudáveis para o coração que eu advogo, incluindo suplementação com óleo de peixe, suplementação com vitamina D para alcançar um nível desejável de vitamina D 25-hidroxi de 60-70 ng/ml, suplementação de iodo e normalização de disfunção da tireóide), eu não vejo mais ataques cardíacos. Os únicos ataques cardíacos que eu vejo são de pessoas que eu recém conheci ou aqueles que, por um motivo ou outro (normalmente falta de interesse) não seguem a dieta. Um padre de quem eu cuido, por exemplo, um homem generoso e maravilhoso, não conseguiu se obrigar a rejeitar os muffins, tortas e pães que seus fiéis lhe traziam todos os dias; ele teve um ataque cardíaco apesar de fazer todo o resto corretamente.
Esta abordagem dietética, apesar de parecer peculiar superficialmente, é extremamente poderosa. Que dieta, afinal, causa perda de peso substancial, corrige as causas das doenças cardíacas como partículas LDL pequenas, reverte a diabetes e a pré-diabetes, e melhora ou cura múltiplas condições variando de artrite reumatóide a refluxo ácido?
Fat Head: Você viu centenas de seus próprios pacientes ficarem curados de doenças supostamente incuráveis após abrirem mão do trigo. Descreva um ou dois dos exemplos mais dramáticos.
Dr. Davis: Duas pessoas estão na minha cabeça quase todos os dias, principalmente porque eu sou especialmente gratificado pela magnitude de suas respostas e porque eu tremo de pensar em como seriam suas vidas se eles não se engajassem nesta mudança de dieta.
Eu descrevo a história de Wendy no livro, uma mãe e professora de 36 anos que tinha uma colite ulcerosa quase incapacitante; são grave que, apesar de três medicações, ela continuava a sofrer constantemente de cólicas, diarréia e sangramento suficiente para requerer transfusões de sangue. Quando eu conheci a Wendy, ela me contou que seu gastroenterologista e cirurgião tinha agendado para ela uma cirurgia para remoção do cólon e criação de uma bolsa de ileostomia. Estas seriam mudanças para o resto da vida; ela estaria fadada a usar uma bolsa para coleta de fezes pelo resto da vida. Eu insisti para que ela removesse o trigo. No começo ela se opôs, já que suas biópsias intestinais e exames de sangue falharam para o teste de doença celíaca. Mas, tendo visto tantas coisas incríveis acontecerem com a remoção do trigo, eu sugeri que não havia nada a perder. Então ela concordou. Três meses depois, ela não apenas tinha perdido 17 quilos, mas todas as cólicas, diarréias e sangramentos haviam parado. Agora já fazem dois anos. Ela foi retirada de todas as medicações e não há mais sinais da doença – colón intacto, nenhuma bolsa de ileostomia. Ela está curada.
O segundo caso é o Jason, também descrito no livro, um programador de software de 26 anos, neste caso incapacitado por dores nas juntas e artrite. Consultas com três reumatologistas não conseguiram chegar a um diagnóstico; todos prescreveram anti-inflamatórios e medicação para dor, enquanto Jason continuava a mancar por aí, incapaz de se envolver em mais que pequenas caminhadas. Dentro de cinco dias desde que removeu todo o trigo, Jason estava 100% livre de dores nas juntas. Ele disse que ele achou isso absolutamente ridículo e se recusou a acreditar. Então ele comeu um sanduíche: As dores nas juntas voltarem correndo. Agora ele está estritamente livre do trigo e das dores.
Fat Head: Seus pacientes são sortudos – você prefere mudar a dieta de um paciente a fazer uma receita médica sempre que possível. Infelizmente, você está entre a minoria. Como eu contei no meu blog recentemente, a esposa de um colega de trabalho foi finalmente curada de suas dores de cabeça quando um conhecido sugeriu que ela parasse de comer grãos. Ela havia ido a diversos médicos que meramente prescreviam medicações. Então… porque tão poucos médicos estão cientes de como os grãos podem afetar nossa saúde?
Dr. Davis: Eu acredito que a área da saúde foi desviada em direção à alta tecnologia, procedimentos que produzem altos lucros, medicações, e cuidados catastróficos. Muito na área da saúde perderam a visão de ajudar as pessoas e cumprir sua missão de curar. Enquanto isso soa fora de moda, eu acredito que é uma tendência ruim para a saúde ser reduzida a uma transação financeira sujeita a restrições legais. Ela precisa voltar a ser uma relação de cura.
Eu acredito que muitos na área da saúde também tenham se desencantado com a ineficácia da orientação alimentar. Porque a “sabedoria” alimentar tem estado errada em tantos pontos durante os últimos 50 anos, as pessoas ficaram desconfiadas da capacidade da nutrição e dos métodos naturais para a melhora da saúde. Pelo que eu testemunhei, no entanto, a nutrição e os métodos naturais tem um poder enorme para curar – se os métodos corretos forem aplicados.
Fat Head: Você espera que seu livro eduque mais doutores no assunto, ou esta é uma daquelas situações onde o público terá que ignorar seus médicos e aprender sozinhos?
Dr. Davis: Lamentavelmente, muitas pessoas lerão a mensagem em Wheat Belly, irão experienciar as incríveis transformações na saúde e peso que podem acontecer, então vão contar aos seus médicos, que irão declarar seu sucesso como uma “coincidência”, “força de vontade”, “efeito placebo” ou outra desculpa. Muitos de meus colegas se recusam a reconhecer o poder da dieta mesmo quando confrontados com resultados poderosos. Isto só poderá mudar após um período muito longo.
Felizmente, mais e mais de meus colegas estão começando a ver a luz e não procurar pelas respostas em drogas e procedimentos. Estes são os profissionais da saúde que eu espero que irão emergir para ajudar pessoas como defensores e treinadores em conduzir uma experiência como a que é descrita em Wheat Belly.
Fat Head: Se mais médicos fossem informados das questões sobre as quais você escreve em Wheat Belly, você acha que eles mudariam suas recomendações alimentares, ou a mentalidade “gordura é má, grãos são bons” está enraizada demais na profissão?
Dr. Davis: Não há absolutamente nenhuma dúvida de que o argumento “gordura é má, grãos são bons” vai persistir nas mentes de muitos de meus colegas por muitos anos. No entanto, eu acredito que se eles lessem os argumentos expostos logicamente em Wheat Belly, eles iriam primeiramente reconhecer que o “trigo” não é mais trigo e sim um produto incrivelmente transformado da pesquisa genética. Então eles começariam a seguir a lógica e entender que a longa lista de problemas associados ao consumo do “trigo” moderno começa a explicar por que estamos testemunhando uma explosão em doenças comuns. É aí que es espero que todos nós ouçamos um coletivo “Aha!”.
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Última edição por Al McAllister em Qua Ago 06, 2014 11:11 am, editado 1 vez(es)