Homem máquina

Cada raça, cada época, cada nação, cada país, cada classe, cada profissão possui um número definido de posturas e de movimentos que lhe são próprios. Os movimentos e as posturas, ou atitudes, sendo o que há de mais permanente e imutável no homem, controlam tanto sua forma de pensamento como sua forma de sentimento. Mas o homem nem mesmo faz uso de todas as posturas e todos os movimentos que lhe são possíveis. Cada um adota um certo número delas, conforme a sua individualidade. Assim, o repertório de posturas e movimentos de cada indivíduo é muito limitado.

O caráter dos movimentos e atitudes de cada época, de cada raça e classe, está indissoluvelmente ligado a formas definidas de pensamento e de sentimento. O homem é incapaz de mudar a forma de seus pensamentos e sentimentos enquanto não tiver mudado seu repertório de posturas e movimentos. As formas de pensamento e de sentimento podem ser chamadas posturas e movimentos do pensamento e do sentimento, e cada um tem um número determinado delas. Todas as posturas motoras, intelectuais e emocionais estão ligadas entre si. Uma análise e um estudo coordenados de nossos pensamentos e sentimentos por um lado, e o de nossas funções motoras por outro, mostram que cada um de nossos movimentos, voluntários ou involuntários, é uma passagem inconsciente de uma postura a outra, ambas igualmente mecânicas.

É uma ilusão crer que nossos movimentos sejam voluntários. Todos os nossos movimentos são automáticos. E nossos pensamentos e sentimentos também o são. O automatismo de nossos pensamentos e de nossos sentimentos corresponde de maneira precisa ao automatismo de nossos movimentos. Um não pode ser mudado sem o outro.

G. I. Gurdjieff